Notícias Falsas e a escravidão voluntária
“A tirania não é ato de força ou violência de um homem ou de um bando de homens, mas nasce do desejo de servir e é o povo que gera seu próprio infortúnio, cúmplice dos tiranos”. Marilena Chauí
A necessidade da comunicação está presente na sociedade desde a era das cavernas, quando o homem usava as pinturas e as simples formas geométricas como uma maneira de expressão. O tempo foi passando e dos rabiscos nas paredes veio a criação dos fonemas, das palavras e da escrita. Para o homem a passagem de conhecimento foi e continua sendo essencial para a vida na terra, sem isso não haveria avanço na tecnologia e nem desenvolvimento do próprio ser humano.
Hoje em dia podemos perceber que existem muitas formas de se comunicar com rapidez como a internet, a televisão, o rádio, que nos passam informações com instantaneidade, objetividade e que nos permitem estar conectados com o mundo.
Entretanto em tempos de fluidez de informações isso pode ser prejudicial, pois temos a tendência a compartilhar links, notícias e informações, sem checar a veracidade das informações, e essa falta de verificação pode afetar seriamente a vida das pessoas. Uma notícia falsa pode reforçar um preconceito ou uma mentira e até destruir a reputação e a imagem de alguém, e os estragos podem ser inimagináveis.
Assim diz Marilena Chauí…”mas nasce do desejo de servir e é o povo que gera seu próprio infortúnio, cúmplice dos tiranos”. No amparo dessa sombra do passado de experiência apreendida, estabelece-se a tirania do papel de oprimido aprende-se a ser opressor. Na ânsia de ajudar ao próximo, erros de julgamento podem ocorrer e estão sendo manipulados por pessoas interessadas que uma ideia ou conceito seja cristalizado no imaginário da população, apesar de suas melhores intenções com um afastamento imperceptível da liberdade, se deixando condicionar ou distraidamente colaborando com as exigências do poder.
Vimos através da história que repetidamente reproduzimos o discurso da servidão voluntária descrita pelo pensador francês Etienne de La Boétie, que questionou no século 16 os porquês que levam a multidão a se permitir escravizar, cega e voluntariamente, a invés de se dispor a servir.
Para La Boétie é o povo que se sujeita e se degola; que, podendo escolher entre ser súdito ou ser livre, rejeita a liberdade e aceita a escravidão, consente tal mal e até o persegue. Como ocorre esse processo é sobre o que o autor se debruça. Etienne esclarece que o tirano obtém seu poder com a conivência do próprio povo subjugado e que a este bastaria decidir não mais servir, recusar-se a sustentá-lo para que se tornar livre.
Creio que com alguns prejuízos ao longo da história poderemos avaliar o quanto que fomos ou somos opressores de alguém? Será que um dia teremos a coragem de mergulharmos para dentro da nossa consciência para avaliarmos de maneira transparente e honesta nossa real responsabilidade em relação ao infortúnio de quem está muito perto ou de um povo que se esbarra em nós? Nós como população, nos orgulhamos de nossa personalidade tranquila e pacífica e nos deixamos ser guiados por pensamentos que nos tiram a liberdade e a autonomia, será que somos tão livres pensadores como querem nos fazer acreditar?